
Nintendo 64
Nintendo 64
142 Jogos cadastrados | 6 Reviews | 83 Dicas e Guias | 62 FotosApesar dos inúmeros jogos incríveis que o Nintendo 64 nos proporcionou durante o seu ciclo de vida, o sistema é muitas vezes lembrado como um bastião da época em que a Nintendo perdeu seu domínio sobre o mundo dos jogos. Embora muitos se lembrem do console como a queda da Big N, o N64 mudaria os games para sempre com apenas um pequeno pedaço de plástico.
Claro, há toda uma lista de coisas pelas quais o N64 pode e deve ser lembrado, mas a mais importante foi sem dúvida a introdução do stick analógico. Com o lançamento do N64, os jogadores iriam aprender um novo significado para controle e o nosso amado hobby nunca mais seria o mesmo.
Em 23 de junho de 1996 - dia do lançamento do sistema no Japão - o N64 foi o primeiro console doméstico da história a ter uma alavanca analógica como seu esquema de controle principal para jogar. Três meses depois, em 29 de setembro, o sistema era lançado nos EUA. Ninguém na época sequer podia imaginar o impacto que este novo esquema de controle teria sobre a indústria, mas não levaria muito tempo para o mundo descobrir isso.
Embora atualmente essa transição do D-pad para alavancas analógicas pareça lógica, naquela época foi uma tremenda ousadia da Nintendo. A Atari e a Sony tinham flertado com a tecnologia no passado, cada um liberando algum tipo de precursor do conceito. No entanto, a única empresa de games que pode afirmar que foi pioneira e popularizou o tipo de controle que hoje é padrão para jogos 3D é a Nintendo.
Foi uma aposta arriscada, já que o sucesso do Nintendo 64 dependeria deste pedaço de plástico cinza. Se os jogadores rejeitassem o novo esquema de controle para seus jogos, o N64 perderia a única vantagem que tinha sobre a concorrência. A empresa como um todo poderia ter desaparecido na obscuridade.
Felizmente para história dos games, a aposta no controle valeu a pena. Mas, a aposta no N64 não valeu tão a pena assim para a Nintendo...
64 bits mas mantendo velhos costumes
Por 13 anos os consoles da Nintendo dominaram a indústria dos games. O Famicom (NES) tirou a indústria do buraco em que ela tinha sido jogada por causa de decisões de negócios desastrosas da Atari no início dos anos 80, enquanto o Super Ninendo tinha permitido que os desenvolvedores de todo o mundo fizessem uma fortuna - e enchido os cofres da Nintendo com suas altas porcentagens sobre os licenciamentos dos jogos. Em termos criativos, as equipes internas da Nintendo (particularmente a divisão EAD de Shigeru Miyamoto) ajudaram a aperfeiçoar o design dos jogos 2D, levando-os ao seu ápice.
Mas erros cruciais foram cometidos pela Nintendo quando a próxima geração de videogames estava se aproximando. Por um lado, a Nintendo esnobou a gigante japonesa Sony em 1991. Sony e Nintendo seriam parceiras na criação de uma unidade de CD-ROM para o Super Famicom, mas a Nintendo pulou fora e assinou com a Phillips. A Sony tinha até feito um anúncio público da parceria, desmentido pela Nintendo. A humilhação semeou a semente da vingança no coração da Sony. O resultado se chamou PlayStation. O sistema eventualmente roubou a posição da Nintendo como líder de mercado na década de 1990, com a Sony obtendo uma vingança histórica.
Além disso, a confiança da Nintendo em seu Super Nintendo anestesiava qualquer senso de urgência para lançar um sucessor. Quando a Nintendo finalmente se mexeu para lançar o Nintendo 64, a produção de seu título de lançamento Super Mario 64 atrasou e muito, o que fez com que o lançamento do sistema fosse bem depois de seus rivais.
A decisão de optar por jogos baseados em cartuchos em vez de mídia baseada em CD-ROM também custou caro. Além de serem mais caros em termos de custo de produção, permitiram que a Sony roubasse algumas franquias que eram exclusivas da Nintendo oferecendo mais espaço para os jogos e produção mais barata em CD - Final Fantasy VII é o maior exemplo.
Por fim, as altas porcentagens que a Nintendo cobrava sobre os jogos licenciados também fizeram com que uma série de desenvolvedores japoneses corressem para os braços da Sony. Esses fatores combinados abafaram o sucesso de um console que foi casa de alguns dos melhores jogos de sua época.
O desenvolvimento do N64 começou em 1993, quando a Nintendo fez parceria com a Silicon Graphics, fabricante de hardware e software com sede na Califórnia, cujas estações de trabalho eram usadas para fazer a computação gráfica de filmes como O Exterminador do Futuro 2 e Jurassic Park. As duas empresas se uniram para criar um sistema com gráficos 3D de baixo custo. O seu nome era Project Reality, em alusão às intenções de criarem um console cujos gráficos seriam extremamente realistas.
Dois anos mais tarde, na Shoshinkai Software Exhibition no Japão, a Nintendo revelou os frutos de sua parceria, um console agora apelidado de Nintendo Ultra 64. Onze jogos foram mostrados; dois estavam em forma jogável. As demos foram suficientes para convencer a maioria dos participantes de que os atrasos eram justificados. Em particular, o controle do sistema, projetado por Genyo Takeda, parecia representar uma mudança de paradigma na ponte entre a ação do jogador e reação na tela. A novidade principal do controle era a introdução de um stick analógico posicionado bem no meio, uma invenção que mudaria a maneira como os jogos eram jogados de forma crucial.
Nos próximos seis meses, a data de lançamento planejada (abril de 1996) foi adiada, supostamente para que Shigeru Miyamoto pudesse gastar mais tempo aperfeiçoando o título de lançamento Super Mario 64. O nome Nintendo Ultra 64 também teve que ser abandonado, já que a Konami havia registrado o termo Ultra 64 para seus jogos.
Quando o sistema finalmente foi lançado em junho de 1996, o PlayStation da Sony já estava no mercado há 18 meses. Os jogos de lançamento eram estranhamente semelhantes aos do lançamento do SNES, com um título do Mario, Pilotwings e jogo de Shogi (xadrez japonês), dando ao lançamento uma sensação de tédio para o coonsumidor. Até o lançamento do sistema nos EUA (dois meses depois), nem um único outro título foi lançado para o Nintendo 64 no Japão. Por mais que Super Mario 64 tenha feito sucesso, apenas um título não pode carregar um sistema e essa escassez de lançamentos viria a definir a vida do N64.
Até o final da vida útil do sistema apenas 387 foram lançados. Por outro lado, mais de 1.000 jogos estavam disponíveis para o PlayStation, o que mostra como a Sony conseguiu fazer os estúdios desertarem da Nintendo.
Foi por conta disso que a Nintendo criou a famosa frase de marketing que virou o mantra da empresa: "qualidade versus quantidade". Sem dúvida isso era verdade - muitos dos seus jogos forma muito elogiados. The Legend of Zelda: Ocarina of Time é até hoje um clássico, considerado um dos melhores games de todos os tempos. Ocarina of Time e Super Mario 64 praticamente definiram os jogos de aventura e plataforma 3D. O padrão estabelecido pela grandeza dos cenários, mecânicas e até câmeras é copiado pela indústria até hoje.
O novo controle, que marcou de vez a despedida dos dias de NES e SNES, permitia aos jogadores mirar com precisão e manipular os mundos dos jogos e personagens com mais facilidade do que nunca. Ao contrário do D-pad da Nintendo que só tinha oito direções, o analógico permitida controle total de 360 graus. Jogadores de console podiam agora controlar os jogos 3D de uma maneira sem precedentes.
Apesar de ter apenas um direcional analógico em um controle atualmente pareça impossível, quando o N64 foi lançado causou uma revolução. O novo sistema de controlo fez mais do que apenas afetar os próprios jogos - iniciou uma tendência duradoura no desenvolvimento de consoles. Um ano e quatro dias após o anúncio do revolucionário controle do N64, a Sony lançou o controle Dual Analog, um dispositivo que funcionou bem no Playstation, mas não só alcançou plenamente o seu potencial no PlayStation 2, quando virou o Dual Shock. Hoje, todos os controles são baseados nele.
Não precisamos dizer que o lançamento do Nintendo 64 foi um momento monumental para o mundo dos jogos. Os jogadores devem muito a esse controle cinza desajeitado e seu stick analógico revolucionário, assim como aos jogos do N64, como Mario e Zelda.
Curiosamente o Nintendo 64 fez mais sucesso nos Estados Unidos com um atraente preço de US$ 199 em seu lançamento. Os jogos lançados posteriormente também ajudaram, pois eram marcas populares nos EUA: Star Wars, Mortal Kombat, Turok, Killer Instinct e Wave Race.
Em 31 de dezembro de 2009, o N64 tinha vendido apenas 5,54 milhões de unidades no Japão, contra mais de 20 milhões nos EUA. Somando com 6,75 milhões em outras regiões, dava um total de 32,93 milhões de unidades mundialmente. Essa diferença brutal entre as vendas dos EUA e Japão pode ser explicada por falta de RPGs no Nintendo 64. O gênero é o mais popular do Japão e todos os grandes RPGs estavam migrando para o Playstation. Como dissemos, a série Final Fantasy ter saído da Nintendo para a Sony representou a morte do N64 no Japão.
De nada adiantou o mercado americano abraçar o Nintendo 64, ele não conseguiu compensar o fracasso japonês. Justamente em sua casa, onde sempre reinou absoluta, a Nintendo era esmagada. O Playstation era um verdadeiro rolo-compressor. Com menor custo de fabricação (tanto para o console quanto para os jogos), preço mais baixo e uma biblioteca maior de jogos (incluindo os RPGs), o PSOne superou o N64 em mais de 10 milhões de unidades no final da brincadeira, o que fez do PSOne o vencedor dessa geração. Pela primeira vez na história da Nintendo um console da empresa caía para segundo lugar - o N64 ganhou do Saturn.
Muitos atribuem a derrota do Nintendo 64 ao atraso no seu lançamento, mas na verdade foram os erros de cálculo da Nintendo que enterraram suas chances. Os principais problemas foram a manutenção dos jogos em cartuchos e a debandada dos estúdios para o lado da Sony - por causa justamente da facilidade do CD e da política de licenciamento da Sony.
Se os estúdios tivessem permanecido fiéis ao Nintendo 64, talvez hoje a Nintendo ainda fosse a número 1. Mas a importância do último console de cartucho da Nintendo não pode ser subestimada.
O Legado do Nintendo 64
O legado do Nintendo 64 foi amargo para a Nintendo, mas muito importante para a indústria. Ele fez a Nintendo perder seu posto de primeiro lugar para a Sony, que consolidou seu reinado de vez com o Playstation 2. Nunca mais a Nintendo seria a número 1 no mercado de consoles (embora tenha continuado líder intocável no mercado de portáteis). A empresa ainda tentou seguir as tendências da indústria com o GameCube, mas esse também fracasssou. No final das contas, a Nintendo precisou se reinventar para continuar no negócio. Com a ousadia e originalidade do Nintendo DS, a empresa se mostrou mais uma vez forte e inovadora. Seu sucesso representou uma mudança na ideologia e no posicionamento de mercado da Big N, que prosseguiu com o lançamento do Wii.
Para a indústria, o Nintendo 64 representou um marco. Embora o PlayStation seja o responsável por popularizar os jogos tridimensionais, foi o joystick do N64 que tornou possível controlá-los de forma apropriada.
O Nintendo 64 não deixou apenas o controle com alavanca analógica de herança, seus jogos 3D estabeleceram padrões técnicos e de qualidade seguidos até hoje.